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Como lidar com a morte e superar a sua dor

A morte é um assunto tabu que as pessoas sempre se sentem desconfortáveis de abordar, evitando-a ao máximo. Temem que, ao falar dela, vão gerar sentimentos de medo, arrependimento, raiva, melancolia, e até mesmo de depressão.


Entretanto, é exatamente essa atitude de fuga, de alienação ou de negação de algo tão natural da nossa existência que traz toda essa carga de emoções negativas e pesadas quando a morte se aproxima.


Existem inúmeras práticas para aliviar as preocupações e as dores emocionais relacionadas à morte. Entretanto, para superarmos definitivamente o sofrimento emocional relacionado à morte é preciso nos conscientizar de que a morte é uma ilusão criada pelo nosso ego.


Como assim? A dor que estou sentindo é uma ilusão? Não, de maneira alguma. Ela é real e muito intensa, mas poderá ser superada brevemente quando compreender de onde ela vem. Saiba como lidar com essa situação delicada:




Desmistificando a morte pelo conhecimento e reflexão


A preocupação e o medo vêm da incerteza. A incerteza vem da ignorância. Ao nos prepararmos com antecedência e de maneira adequada para a morte, seja a nossa própria ou de alguém próximo e querido, temos tempo e tranquilidade para refletir e conseguir lidar de forma clara e organizada com toda essa gama de sentimentos intensos e confusos que surgem em nossas cabeças quando tratamos do tema, de modo que quando ocorrer o falecimento, saberemos como lidar com a situação e com nós mesmos de maneira serena.


Reconhecendo e sentindo emoções diferentes em situações diferentes


Situações diferentes relacionadas à morte afloram emoções e sentimentos diferentes e é preciso identificá-las e dar vazão a elas, pois o tempo não elimina essa carga emocional, apenas a esconde no inconsciente.


Se estamos lidando com a própria morte, podem surgir sentimentos de culpa e vergonha pela vida vivida, arrependimentos de ações feitas ou deixadas de lado. Há ainda o medo sobre o processo de morrer, se haverá dor ou situação de indignidade. Existe frustração e culpa por deixar as pessoas próximas desassistidas, ou mesmo de não deixar um legado, o que revela orgulho. Por fim, para os religiosos, há ainda a preocupação sobre a vida após a morte.


No caso em que nos defrontamos com a morte iminente de alguém próximo, podemos ser tomados pela vergonha e culpa por alguma ação errada para com o moribundo, ou ter dedicado pouco tempo a tal pessoa. Também há o medo de não ser capaz de viver sem a companhia do falecido.


Por fim, quando a pessoa próxima já faleceu, soma-se ainda o arrependimento por não ter tido tempo de se desculpar ou agradecer, ou de dizer o quanto a amava.

Todas essas emoções intensas estão intimamente relacionadas ao passado ou ao futuro, e não ao exato presente.



Vivendo no presente


Quando vivemos concentrados no momento presente o conceito de morte deixa de fazer sentido, pois uma das duas situações ocorre: ou você está vivo e consciente do presente, desapegado do passado e do futuro, ou está morto, e, portanto, não existe preocupação. Todas as fortes emoções atreladas à nossa existência passada ou perspectiva futura perdem sentido e desaparecem.


Uma analogia que pode ser útil é considerarmos a vida vivida como um filme. Se em um determinado momento desse filme, dermos uma pausa, podemos tomar consciência do nosso estado emocional. Podemos estar chorando pelo sofrimento do protagonista, podemos estar admirados pelas suas conquistas até aquele momento, ou podemos estar com medo pelos seus perigos e ansiosos pelos seus desafios. Estamos identificados e apegados com o próprio personagem, nos emocionamos com a sua história passada até o momento, e temos expectativas sobre o final do filme.


Um amigo que entrasse na sala neste momento e apenas visse aquele instante congelado na tela poderia até apreciar a paisagem mostrada, o figurino dos personagens ou a beleza dos atores, mas certamente não sentiria as mesmas emoções intensas de quem está assistindo ao filme desde o início.


A razão para tal diferença é que o nosso amigo não tem conhecimento e apego do que já aconteceu no filme, e não tem expectativas sobre o que está por vir. Nosso amigo está imune às fortes emoções porque está livre do passado e do futuro da história, e percebe apenas o instante presente daquele fotograma.


Na verdade, as emoções intensas vêm à tona apenas enquanto estamos assistindo ao filme, pois estamos identificados com o personagem. Algumas horas após o término do filme, apesar de termos ainda a lembrança dele, provavelmente não despertaremos a mesma intensidade de emoções ao contarmos a história para um conhecido, pois já teremos plena consciência que quem viveu aquela vida foi o personagem e não nós mesmos. Estaremos desapegados do eu ilusório do personagem e conscientes de que o filme foi uma ficção, uma ilusão.


Da mesma forma, quando conseguimos realmente viver no instante presente, desapegando do passado e do futuro do nosso filme de vida, eliminando o nosso eu ilusório, não despertamos emoções intensas, mesmo em situações trágicas, envolvendo a morte.


Aceitando a naturalidade da morte


Precisamos aceitar a morte como um processo natural e inexorável. O sofrimento quanto à nossa perspectiva de morte ou a morte de alguém que amamos deriva do apego à situação presente de vida.


Não queremos que haja mudança na situação de vida, o que é insano pois o universo está sempre em transformação. Nós mesmos estamos constantemente nos transformando. O nosso eu do passado morreu e só existe o eu do presente. Nosso corpo, mente e emoções de dez anos atrás não existem mais. Estamos a cada instante mais velhos e experientes.


Precisamos aceitar a nossa morte assim como aceitamos que nossos filhos crianças não existem mais, mesmo surgindo certa melancolia quando revisitamos os álbuns da família. O sofrimento vem do apego ao passado, algo que não existe mais.


Entendendo a morte como processo de transformação do Universo


Quando o nosso corpo físico morre, todas as suas células se dissolvem em moléculas que são dispersas e absorvidas para a constituição de outros corpos desse universo. As moléculas não desaparecem, elas vivem para sempre, como substância essencial. O que desaparece é a sua aglomeração temporária na forma de um corpo individual.


Da mesma forma, a nossa mente individual é uma formação energética temporária, construída e moldada pelo acúmulo de nossas experiências desde o nosso nascimento, caracterizando o nosso eu e a nossa personalidade.


Quando morremos, essa individualidade mental também morre junto com o nosso corpo e essa energia mental se dissolve na mente do Universo. Essa essência mental sempre existiu, tomou forma temporária numa individualidade mental, o nosso eu, e voltará novamente para a sua forma molecular dispersa e não individual com a nossa morte.


Viver com a mente do Universo é tomar essa consciência de que a nossa individualidade corporal e mental é temporária e, portanto, falsa, pois é uma percepção ilusória de individualidade quando, na verdade, a nossa essência é comum e universal, e também eterna.


Quando uma gota de água de chuva se vê como apenas como uma porção de água com forma arredondada e brilhante, ela sente que vai morrer e desaparecer completamente ao cair no imenso oceano. Mas se ela se ver como uma parcela temporária e fungível ao próprio oceano, ela se sente parte e todo ao mesmo tempo, e tem certeza de que nunca vai desaparecer e viverá eternamente não importando a sua forma provisória.


Com o mesmo raciocínio, podemos dizer que sob a ótica do universo, a nossa essência como humanos, parte do universo, continuará existindo, mesmo que a nossa individualidade, criada pela nossa própria mente, através da percepção de corpo individual separado, identidade e história pessoal “única”, se extinga pela nossa morte física.


A morte desaparece quando o conceito de morte deixa de fazer sentido, assim como dizer que o sol nasce no Leste e se põe no Oeste deixa de existir quando você está no espaço.


Transcendendo a morte pela mudança da percepção


Conhecemos bem a história do otimista que vê o copo meio cheio e do pessimista que o vê meio vazio. Ela indica um caminho para transformação da nossa vida simplesmente alterando a nossa percepção.


Podemos dizer que cada pessoa enxerga o mundo com suas próprias lentes, de cores e graus diferentes; mas se todas essas pessoas retirassem esses “óculos” personalizados, todos poderiam enxergar o mundo da mesma forma, da mesma cor e tamanho. Esse mundo único é o Universo verdadeiro, aquele que resta quando eliminamos toda ilusão criada pela falsa percepção da nossa própria mente.


Quando eliminamos o nosso “eu”, perdemos a nossa identificação com a nossa história e o nosso corpo, ou seja, o apego a esta identidade pessoal desaparece e o que sobra é a percepção sob o ponto de vista do Universo. Esse é o significado de “viver para sempre”, não o eu ilusório, mas a essência natural. Esse também é o verdadeiro significado da ressurreição, a transcendência da morte.


Invertendo a percepção de morte


Podemos dizer que, em geral, as pessoas já estão “mortas”, pois vivem numa ilusão, numa percepção de mundo muito individual criada pelas suas próprias mentes autocentradas.


Vivem cheias de ansiedades, arrependimentos, vergonha e culpa, decorrentes de seus pensamentos e ações com o intuito de manter esse eu ilusório vivo. Essa luta para não deixar o eu interno morrer, e muitas vezes o esforço feito ao longo da vida para engrandecê-lo, é que causa as nossas grandes aflições quando a morte chega.


Morrendo para poder viver eternamente


A solução para os nossos sofrimentos é encontrada exatamente no caminho contrário, ou seja, ao fazer morrer esse eu ilusório, todos os nossos pensamentos ilusórios desaparecem e só sobra a nossa essência que é natural, livre, leve, despreocupada e feliz. Essa é a verdadeira vida, esse é o verdadeiro paraíso em vida, eterno, sem início nem fim.


Quando se fala em viver para sempre no paraíso, não significa que o corpo nunca morrerá, uma vez que isso é um processo natural e inevitável. Significa que quando abandonamos o nosso eu, desapegamos também de nossas ambições, das metas, dos prazos a serem cumpridos e passamos a viver mais relaxados no presente.


Se não pensarmos mais no passado nem no futuro, não há mais a percepção de tempo, e se não há tempo, o presente, que é a única coisa que sempre existe, se torna a própria eternidade.


A vida com a mente falsa é como uma máquina suja, onde as engrenagens enferrujadas e secas se atritam e fazem muito barulho para se mover. A eliminação da nossa mente falsa, ou seja, a sua morte, é como a limpeza de todas as engrenagens dessa máquina. Ao descartarmos a mente ilusória e renascermos com a mente do Universo, a nossa máquina passa a funcionar de maneira perfeita, feliz, sem atritos ou estresse, suave, silenciosa e de maneira muito eficaz.




Eliminando o eu ilusório como separador do Universo


O conceito de vida e morte é inerente à existência do eu interno, sendo assim uma ilusão, tal como dizer que o rio "nasce" na nascente e "morre" no oceano. A água do rio está em constante transformação e circulação na natureza e, portanto, o conceito de nascimento e morte do rio é uma abstração da mente humana.


Todo ser humano, sob a ótica do Universo, é apenas um dos infinitos personagens da existência em transformação, e o nascimento e a morte de um indivíduo é uma ilusão criada pelo seu eu ilusório.


Existem vários caminhos para a redução e a eliminação do eu ilusório. Um dos mais eficazes é a prática da meditação de descarte. Através dela, podemos atravessar a camada da percepção mundana gerada pelo nosso eu ilusório, e entrar em contato com a nossa essência universal. A partir desse estado, podemos reconhecer o eu como uma criação ilusória, da qual podemos nos desapegar e deixar morrer. Então teremos a clara percepção de que a morte não existe, é apenas uma ilusão, e assim nos libertamos de todos os sofrimentos gerados por sua falsa concepção.


Se quiser se aprofundar mais na prática para fazer desaparecer o eu ilusório, agende uma Sessão de Meditação Introdutória e inicie a sua jornada para a transcendência da morte.

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